segunda-feira, 10 de outubro de 2011

dançar sem fim

Eu nunca fui realmente boa em esporte nenhum. Na quinta série lá no meu colégio você passava o ano fazendo rodízio de esportes pra depois, no ano seguinte, decidir qual você ia querer. Eu tinha onze anos, era a menor da minha turma e extremamente magrela. Nesse mesmo ano fui fazer um daqueles testes que a criança faz pra saber quantos anos os ossos tem (algo do tipo) e deu que eu tinha a ossada de uma criança de oito anos.

Eu voltei tão chocada pra casa, me lembro até hj...

Eu faria qualquer coisa pra crescer (ainda faço gente to aceitando propostas rss) e foi por isso que na sexta série eu decidi que ia me matricular no basquete.

No primeiro dia de aula lá estava eu, cheia de tic tacs coloridos no cabelo e um óculos meio fundo de garrafa de armação COR DE ROSA. O bullying tava estampado na minha cara.

Primeiro passe de bola que me deram: ela veio voando na minha direção numa velocidade impressionante e me acertou bem no rosto. Meu óculos empenou todo. Não sei pq raios eu continuei insistindo naquela ideia por seis longos e torturantes meses. Sei que ali no basquete fiquei e, depois de constatar que o sofrimento realmente nao valia a pena, eu desisti.

Eu tinha que escolher um esporte legal (era meio que obrigatório) de repente me lembrei vagamente das aulas de dança e de balé que eu tinha tido no início da quinta série. Fiquei bastante na dúvida e comecei a ponderar. Até fiz um ano de balezinho qnd tinha seis anos só que de repente tudo parecia meio sem sentido. A verdade é que eu nao sou a maior fã de ballet clássico.

"e essas aulas de dança, são o quê? ballet tambem?"

"não, é aula de dança contemporânea"

Quem disse que eu sabia o que era isso? Mesmo assim, me matriculei. Ou era isso ou era ficar fazendo plié o dia todo esperando que, algum dia, eu viesse a me tornar boa o suficiente pra ser primeira, segunda ou terceira bailarina. Geralmente se você não tá entre as tres mais acaba virando ferramenta de cenário.

To fora.

Foi a melhor decisão que já tomei na minha vida escolar. Pq apesar de nao levar o menor jeito eu gostava de estar ali, tentando dar minhas piruetas em vão, sem ninguem pra me recriminar. De alguma forma o ballet clássico acabava fazendo isso com as pessoas. Claro que a competitividade vai existir sempre nos dois universos, mas ali, no meu colégio, era daquela forma. Na verdade é tudo uma questao de metodologia. Minha professora de dança nao ligava pra quem era a melhor bailarina. Ela fazia com que todo mundo participasse e aquilo era ótimo pra mim : ) Eu era uma péssima bailarina.

No fim do ano tinha espetaculo. E apesar da professora tentar incluir todo mundo numa turma só haviam muitas pessoas com níveis diferentes de técnica ali. O jeito foi dividir a turma em duas partes. Uma pras mais avançadas e outra pras iniciantes. Fiquei na segunda.

Aquilo não me destruiu na hora. Eu apresentei e foi tudo certo e depois me sentei pra ver a coreografia das outras garotas.

E era tão mais impressionante.

Aquilo sim acabou comigo. No outro ano eu me obriguei a entrar naquele grupo. Ia ser minha meta na vida. Eu me matriculei numa escola de dança e treinava uns 4 dias por semana. Na verdade, no meio do ano eu achava que não ia conseguir meu objetivo... Mas ja tava tão integrada com as duas turmas que resolvi continuar. Eu gostava de dançar no fim das contas. No colégio era obrigatório, e na escola de dança eu era a mais velha e invariavelmente recebia mais destaque. Minha moral era elevada dois dias por semana, mais do que suficiente.

Lembro demais que eu faltei a aula em que foi anunciada a divisão das coreografias. Eu já não esperava ficar na primeira e cheguei dois dias depois perguntando o que tinha ficado combinado, crente que nada ia mudar.

Mas eu tinha conseguido : )

Foi uma das únicas coisas que eu realmente tentei, dei meu melhor e consegui. Eu me orgulho muito disso. Pode parecer muito bobo, mas durante todo o resto da minha vida escolar as aulas de dança estavam ali. Eu saía da aula de manhã, comia alguma coisa e corria pra sala com piso de madeira e espelhos gigantes.

Eu não consigo descrever qual é a sensação exata de se dançar num palco, pra várias pessoas. E olha que eu fiz isso por bastante tempo. Todo aquele velho clichê de "quando as cortinas se abrem, tudo se transforma bla bla bla" parece ridículo, mas é mais ou menos por aí.

Nem minha mãe me reconheceu no palco da primeira vez que dancei, rssss

Eu adorava estar na coxia e saber exatamente qual era a minha hora de entrar em cena e ter consciencia de que ninguem na plateia sabia que eu entraria. E quando entrava, as caras surpresas. Uma vez minha professora disse que se você faz contato visual com alguem que te assiste e esse alguem evita seu olhar... Voce ta no caminho certo. Eu olhava bem no fundo dos olhos deles e vibrava quando a expressao de surpresa se formava.

"é pra mim que ela esta olhando?"

E passavam a olhar pra outro canto. Qualquer canto, menos eu. É engraçado quando vc para pra pensar no por que isso acontece. As pessoas simplesmente acham que a bailarina vive num mundo proprio. Ela nao olhará pra plateia, ela sorrirá pra um ponto distante no fundo do teatro e só. É uma forma de atrair atenção válida, mas nao era o que se dizia nas minhas aulas. Minha turma era ensinada a interagir. Nada de sapatilhas de ponta. Pés no chão, muitas vezes descalças. Nada de ser erguida no alto por um cavalheiro e tentar alcançar o impossível. E olhar nos olhos sempre. Era isso.

Foram anos muito, MUITO bons. Só que hoje em dia eu só acho que meus dias de bailarina acabaram. Queria tanto viver disso. Queria sair pelo mundo com uma companhia bem famosa, passar anos fora de casa, só trabalhando. Dançar sem fim : )

Não sei se vai dar depois de três anos parada, sem fazer nada da vida. Mas eu ainda arrisco umas piruetas sozinha no meu quarto.

Quem nunca?

Um comentário:

  1. Também tinha esse sonho de viver de dança, acho que ainda tenho sei lá :'))

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